Imagens de ressonância magnética mostram que diferentes formas de meditação têm efeitos duradouros na estrutura cerebral.
Participar de um programa de treinamento em meditação pode ter efeitos
duradouros e mensuráveis nas funções do cérebro, mesmo nos momentos em
que a pessoa não está meditando. Esse é o resultado de uma pesquisa
publicada na edição des
te mês da revista
Frontiers in Human Neuroscience que usou imagens de ressonância
magnética do cérebro de voluntários para medir como a prática da
meditação afetava a regulação das emoções. "Essa é a primeira vez que a
meditação foi mostrada afetando o processamento emocional do cérebro
fora dos estados meditativos", disse a neurocientista Gaëlle Desbordes,
pesquisadora da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, e autora da
pesquisa.
Diversos estudos anteriores mostraram que a prática
da meditação diminuía a ativação da amígdala – uma área cerebral
conhecida por seu papel na regulação das emoções. Essas pesquisas, no
entanto, só haviam sido feitas com voluntários durante o estado
meditativo. O novo estudo é o primeiro a medir se a prática pode
produzir uma redução duradoura na resposta da amígdala aos estímulos
emocionais.
Os participantes foram recrutados entre os
voluntários de uma pesquisa maior realizada pela Universidade de Emory,
nos Estados Unidos, que havia angariado adultos saudáveis para
participar de cursos de oito semanas em dois tipos de meditação. A
primeira foi a meditação de atenção plena, o tipo mais estudado, focado
em desenvolver a consciência da respiração, pensamentos e emoções. A
segunda, e menos conhecida, foi a meditação compassiva, que inclui
métodos destinados a desenvolver a bondade e a compaixão por si mesmo e
pelos outros. Um terceiro grupo de voluntários participou de cursos de
saúde pelo mesmo período de oito semanas.
A pesquisa da
Universidade de Boston recrutou 12 participantes de cada um dos três
grupos, e realizou exames de ressonância magnética em seu cérebro três
semanas antes de começarem os cursos e três semanas depois de
terminarem. Os exames foram realizados enquanto os voluntários viam uma
série de 216 fotografias de pessoas passando por situações com conteúdo
emocional positivo, negativo ou neutro.
Atenção e compaixão –
As imagens de ressonância magnética do grupo que praticava a meditação
de atenção plena mostraram uma queda na atividade da amígdala direita em
resposta a todas as fotografias. Já as imagens do grupo que praticava a
meditação compassiva só mostraram uma queda na reação às fotografias
positivas e neutras. Na verdade, entre os participantes que praticavam
esse tipo de meditação com mais regularidade, a resposta da amígdala às
imagens negativas aumentou.
Já o terceiro grupo, que recebeu
apenas as aulas sobre saúde, não mostrou nenhuma mudança na reação às
fotografias, mostrando que a meditação ajuda a melhorar a estabilidade
emocional e a resposta ao estresse. "Esses resultados são consistentes
com a hipótese de que a meditação pode resultar em mudanças benéficas e
duradouras no funcionamento cerebral, especialmente na área de
processamento emocional", diz Gaëlle Desbordes.
Quanto à
resposta cerebral diferente entre os dois grupos de praticantes da
meditação, os pesquisadores explicam que isso se deve ao fato de eles
treinarem aspectos diferentes da mente. "A meditação compassiva foi
desenvolvida para aumentar os sentimentos de compaixão, então faz
sentido que ela aumente as respostas da amígdala à visão de pessoas
sofrendo. O aumento da atividade da amígdala também esteve relacionado
com índices menores de depressão, mostrando que o fato de ter mais
compaixão pelos outros também pode ser benéfico para si mesmo."
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